Há exatos 17 anos, o Brasil entrava no cenário do tênis mundial. Foi no
dia 8 de junho de 1997, em Paris, na França, que um tenista franzino, de
roupas coloridas e sem muita expressão no ranking da ATP vencia um dos
quatro maiores torneios do tênis desbancando uma série de favoritos. Há
17 anos, Gustavo Kuerten, o Guga, vencia o primeiro Roland Garros de sua
vitoriosa história.
Com 20 anos na época da conquista, Guga
nunca imaginaria que aquele título seria apenas o primeiro de grandes
conquistas na carreira. Na verdade, Kuerten nem sabia muito bem como
funcionava o torneio. 'Eu entrei em Roland Garros sem ter noção alguma
do torneio, sem entender o Grand Slam e acho que isso me ajudou muito.
Jamais eu poderia imaginar o que representariam todos esses títulos',
disse Guga
.
A inocência de Guga pode ser traduzida não só pela sua idade, mas também
pelos seus resultados. Guga nunca havia conquistado nenhum torneio do
nível ATP antes de Roland Garros. Ele só havia vencido dois torneios do
nível Challenger no Brasil. Com pouco mais de dois anos de profissional,
Guga ainda era um 'novato' no meio das feras.
E essas feras não
eram poucas. O tênis da época era diferente do atual. Não existia um
único atleta dominando determinado piso. Nomes como austríaco Thomas
Muster, o russo Yevgeni Kafelnikov e o espanhol Sergi Bruguera eram
bastante temidos no saibro, tipo de piso de Roland Garros. Os três já
haviam vencido em Paris e já ocupavam posições de destaque no ranking
mundial.
Quis o destino que durante a jornada para o título, Guga
enfrentasse justamente os três. No entanto, antes de encontrar os tops,
Guga teria pela frente o tcheco Slava Dosedel e o sueco Jonas Bjorkman.
Foram duas vitórias, por 3 sets a 0 e 3 a 1 respectivamente.
Na
terceira rodada do Grand Slam francês, o temível encontro com o
austríaco Thomas Muster, ex-número um do mundo e campeão de Roland
Garros em 1995. Como esperado, um jogo difícil. Foram cinco sets. No
final, vitória do brasileiro por 3 a 2 e menos um grande rival pelo
caminho.
As oitavas de finais vieram e mais uma pedreira pelo
caminho. Era o ucraniano Andrei Medvedev, ex-número quatro do mundo.
Mais uma vez Guga levou a partida para a batalha de cinco sets e mais
uma vez saiu vencedor por 3 a 2. O garoto franzino de Santa Catarina já
despertava a atenção dos franceses.
Nas quartas de finais, o
atual campeão Yevgney Kafelnikov. Era o primeiro jogo de Guga na quadra
principal do torneio, a Philippe Chatrier. A partida foi complicada como
previsto, Kuerten venceu o primeiro set, mas perdeu os dois seguintes. A
vitória foi de virada em mais uma batalha de cinco sets. Era o momento
de sonhar com o título. 'A nossa expectativa em Roland Garros era ganhar
um ou dois jogo, no máximo. Esse resultado para gente já seria
excelente, mas fui ganhando todos os jogos. Depois de vencer o
Kafelnikov, tive certeza que seria campeão', afirmou Guga
Nas
semis, um adversário mais modesto, o belga Filip Dewulf, então número
122 do mundo. Com a confiança de eliminar dois ex-campeões, Guga venceu
por 3 a 1 e carimbou o passaporte para a primeira final de um brasileiro
em Roland Garros.
O espanhol Sergi Bruguera seria o adversário.
Bruguera já havia sido bicampeão na França em 93 e 94. Parecia o fim do
jovem Guga. Porém, o que se desenhava como um quadro complicado, acabou
por ser um dos jogos mais fáceis de Guga no torneio. Um 3 a 0 sem
grandes desencontros e Gustavo Kuerten levantava pela primeira vez o
troféu Roland Garros. Troféu esse que seria erguido mais duas vezes, em
2000 e em 2001. Com Guga, o tênis deixou de ser visto apenas como
esporte de rico para ser mais um esporte como qualquer outro. Passamos a
ser também o país das raquetes, as raquetes de Gustavo Kuerten, que de
número 66 do mundo passaria a ser o número um no coração do Brasil.